A displasia coxo-femural é uma doença genética que atinge 20% dos Golden Retrievers testados pela OFA.
No Brasil, o assunto é discutido porém ainda pouco controlado por criadores e pouco conhecido pelos proprietários de cães da raça.
Entrevistamos o especialista em radiologia veterinária, Dr. Luis Carlos Medeiros Júnior, graduado em Animal Sciences pelo Box Hill Institute de Melbourne, Mestre em Radiologia Clínica pelo Departamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São Paulo e Doutor em Ciências Radiológicas pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.
Dr. Luis é Médico Veterinário Radiologista do Vetimagem – Unidade Pompéia, onde são realizados exames para displasia coxo-femural e cotovelos, entre outros.
1) Doutor LuisCarlos, como a displasia coxo-femural afeta, de fato, a vida de um cão?
A displasia provoca uma degeneração articular progressiva levando a artrose que muitas vezes é incompatível com a vida do animal, sendo necessário a eutanásia em casos extremos.
2) Além do exame de displasia dos pais, o que mais os futuros proprietários de um cão podem fazer para evitar comprarem cães displásicos?
Por ser de origem hereditária com genes recessivos, a doença pode ser intermitente por várias gerações, portanto o que se recomenda é que os futuros proprietários exijam além do exame de displasia dos pais, o exame de gerações anteriores, sempre que disponível, e o mais importante, exames de instituições renomadas e idôneas como a OFA (Orthopedic Foundation for Animals).
3) Um cão com ausência genética de displasia pode desenvolver a doença simplesmente devido ao manejo incorreto (pisos lisos, por exemplo)?
Existe muita lenda sobre a chamada “displasia ambiental”. Um animal que tenha articulações normais pode vir a desenvolver um quadro de artrose quando submetido a um manejo inadequado, mas ele não vai passar as alterações da articulação para gerações posteriores, que é uma característica da displasia, por ser de cunho genético.
Um animal com displasia leve pode desenvolver lesões artríticas que só seriam encontradas em um animal com displasia grave, quando for submetido a um manejo inadequado.
4) Quais as principais precauções de manejo que se deve tomar com o cão nas várias etapas da sua vida?
A prevenção da displasia deve começar antes do animal nascer, tomando cuidado com os apadrinhadores (matriz e padreador), apenas cruzando animais com articulações normais. Animais com articulações razoáveis devem ser sempre cruzados com animais com articulações excelentes ou boas.
Para os filhotes uma alimentação e um ambiente adequado são essenciais uma vez que a degeneração articular começa por volta dos 60 dias de vida.
Para animais jovens deve-se evitar a sobrecarga de exercícios uma vez que o impacto nas articulações pode gerar uma deformação articular agravando um quadro de displasia leve, por exemplo, ou levando à artrose uma articulação normal.
O manejo é importante, o animal não deve ficar em pisos lisos ou escorregadios para que não haja uma instabilidade articular; o terreno não deve ser em declive para não haver sobrecarga de peso sobre as articulações; a obesidade deve ser evitada porque o excesso de gordura gera um aumento da pressão muscular sobre a articulação podendo levar à artrose.
A suplementação alimentar é indicada apenas nos casos em que o animal esteja com deficiência nutricional ou sob recomendação do clínico veterinário.
Para animais adultos, a partir dos 24 meses de idade o exame radiográfico das articulações, tanto do coxal como a dos cotovelos é necessário para verificar a presença ou não da displasia. O ideal é que tal exame leve a um laudo de displasia coxo-femural.
Animais idosos podem fazer uso de protetores articulares para se evitar a artrose, desde que seja indicado por um clínico veterinário a posologia correta e o tempo adequado de uso da medicação.
5) Atualmente, quais os tratamentos existentes para a displasia?
Nos casos de displasia leve, pode se fazer uso de protetores articulares e de exercícios para o fortalecimento da articulação, desde que o animal seja avaliado clinicamente e esta opção seja viável para a situação articular do animal.
Nos casos graves pode ser necessário um tratamento cirúrgico.
6) E quanto ao diagnóstico, como é feito? Existe algum exame para detecção precoce da patologia?
O diagnóstico da displasia, tanto de coxal como de cotovelos, é feito através do exame radiográfico que poder ser feito previamente aos 7 ou 8 meses de idade e com caráter definitivo aos 24 meses, segundo a recomendação da OFA.
A universidade da Pensilvânia desenvolveu um método chamado PennHIP que determina a probabilidade do animal vir a desenvolver uma doença articular degenerativa, dentre elas está a displasia. Essa análise deve ser feita aos 4 meses e repetida aos 8 meses de idade.
Aqui no Vetimagem – Unidade Pompéia nós recomendamos um exame radiográfico prévio aos 7 meses e o definitivo nós fazemos a partir dos 24 meses e enviamos as radiografias para serem avaliadas na OFA.
7) Existe no Brasil algum órgão semelhante ao que a OFA é nos EUA? Como saber se estamos fazendo exame de displasia com médicos veterinários qualificados para tal função?
Não existe nenhuma outra instituição semelhante a OFA, que é uma fundação sem fins lucrativos criada em 1964 para normatizar o exame radiográfico para a avaliação da displasia coxofemoral e hoje também oferece várias outras análises de doenças congênitas.
O procedimento para a realização do exame radiográfico para avaliação da displasia é bem descrito na literatura veterinária, mas o diagnóstico deve ser deixado a cargo dos médicos veterinários especialistas em radiologia e também as radiografias podem ser enviadas diretamente para serem avaliadas na OFA que para a avaliação faz uso de uma banca de 3 veterinários radiologistas especialistas em articulações coxofemorais.
8 ) O senhor costuma fazer o exame de muitos Golden Retrievers? Já reparou se a incidência de displasia na raça é maior que em outras de grande porte?
Atualmente no Vetimagem – Pompéia, o Golden Retriever é a raça que mais radiografamos para a avaliação da displasia coxofemoral e de cotovelos também. A raça está em 32º lugar entre os animais mais displásicos avaliados pela OFA com um total de 20% dos animais positivos, o que é muito alto.
Felizmente tem crescido o número de criadores que realizam os exames preventivos dos animais e retiram da criação aqueles animais que são positivos para a doença.
9) Como outras raças e criadores das mesmas passaram a controlar a displasia?
Hoje em dia a pessoa que quer comprar um cão faz um intensa pesquisa na internet que disponibiliza através de sites específicos como este, um gama muito grande de informações sobre os animais e suas doenças predisponentes. Então os criadores já não estão mais se arriscando a vender um animal sem o exame negativo de displasia dos pais.
Algumas raças que antes não tinham tradição na realização do exame preventivo de displasia, como os Pastores de Shetland e os Dobermanns, já superam em número de animais radiografados, raças com alto índice estatístico de displasia como o Pastor Alemão por exemplo. Mesmo essas raças tendo uma baixa incidência da doença, os criadores optam em fazer o exame e assim teve-se uma redução significativa na presença da displasia nessas raças.
10) Existe algum banco de dados nacional com dados dos cães testados? Caso contrário, por que isso não é desenvolvido e regulamentado?
O único banco de dados ao qual eu tenho acesso é o disponibilizado pela OFA em seu site (www.offa.org). Não conheço nenhuma associação de criadores que tenha intencionado criar algo parecido.
Talvez a opção dos criadores em fazer os exames nos diferentes laboratórios variando entre os laudos nacionais e da OFA dificulte a angariação dos dados.
11) Quais medidas o senhor sugere para a criação brasileira de Golden Retrievers tomar em relação a displasia?
Em primeiro lugar o criador deve ter em mente que manter no plantel um animal, mesmo com displasia leve, vai gerar em algum momento de sua criação um problema maior de displasia, porque a doença é hereditária.
E a realização do exame radiográfico é fundamental, hoje parece ser inadmissível comercializar um animal se um exame preventivo dos pais.
Os criadores da raça deveriam se unir e passar a exigir que os animais sejam radiografados e o diagnóstico fosse descrito no pedigree do animal.
Essa medida parece ser radical de mais, mas quanto mais concessão se faz, mais se acoberta o aparecimento da doença.
12) Gostaria de dar uma mensagem final a todos os proprietários e futuros proprietários de cães da raça Golden Retriever?
Vocês escolheram uma raça muito legal, os Goldens são animais de caráter único com uma personalidade cativante, é difícil ter contato com um deles e não se apaixonar pela raça e isso faz com que esses animais sejam dignos de cuidados que envolvem não só o exame de displasia, mas as medidas profiláticas recomendadas pelos clínicos veterinários para que os animais tenham uma vida saudável e para que assim possamos desfrutar a plenitude da alegria que eles podem nos proporcionar.
Obrigado pela oportunidade e nós, do Vetimagem – Unidade Pompéia, estamos a disposição para esclarecer eventuais dúvidas sobre o assunto.
Entre em contato com a Vetimagem – Unidade Pompéia:
Telefones: (11) 3873-6740 ou (11) 3864-6590
Endereço: Av. Pompéia, 500 São Paulo – SP
E-mail: infooeste@vetimagem.com.br